
Nunca me preocupei com o futuro do livro apesar de ter feito Letras e trabalhado em duas editoras (por que a gente comete erros na vida mesmo?). Parece coisa de alienado, mas o que me preocupa é o futuro da leitura, seja ela proporcionada por um jornal, um site ou qualquer outro meio. O livro pelo livro é mero objeto, desses que podem passar a vida numa estante sem nunca serem lidos de novo. Também não sou contra novas tecnologias, ao contrário. É inegável a sua praticidade, resistir a elas não evita que se popularizem. Tenho um tio que se nega a mexer num computador e usa até hoje a máquina de escrever. Uma vez ele me pediu que enviasse umas fotos de câmera digital que havíamos tirado e perguntei: "pra onde? pra sua máquina de escrever?" No fim mandei imprimir e pus no correio, surreal e dispendioso nos dias de hoje. Numa aula, outro dia, o professor comentou que foi a uma festa e que alguém lá tinha uma câmera antiga, de filmes, e todo mundo queria posar pra foto tirada na tal câmera. O usuário resistente acaba virando símbolo da luta contra a tecnologia que "torna nosso mundo sem graça". É o mesmo usuário que salva dos sebos os velhos discos de vinil, que afirmam que o chiado da agulha é que "dava o charme". Coisa de louco, né? Hoje, quando ouço algum vinil me pergunto como a gente não percebia o quão insuportável era aquele barulho. Agora meu objeto de desejo é um IPAD ou um Kindle, pra baixar vários livros da internet e carregá-los comigo pra onde eu for. Certo que virão novas tecnologias que substituirão também o IPAD e talvez o livro tenha tantos adeptos que não vire objeto em extinção, como o vinil. Mas é claro que tudo que fez parte da sua vida trará saudosismo e é fato que vivemos de lembrança. O cheiro do livro, velho ou novo, sempre me atraiu, assim como livros que você não sabe a quem pertenceu e trazem uma dedicatória mais misteriosa ainda. São coisas que a tecnologia vai roubando de nossas mãos, mas sempre substituindo por outras que não são menos atrativas. Se não fosse assim, quem se renderia ao novo? Acho que o bacana é podermos conviver com o passado e futuro ao mesmo tempo; quem se prende a um ou a outro de forma resistente não aproveita o melhor: assistir à mudança do tempo e mudar com ele.
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